CEJ Santa Marina

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Blog oficial da Paróquia Coração Eucarístico de Jesus e Santa Marina

segunda-feira, 10 de março de 2014

A JMJ-2013 DO RIO DE JANEIRO - Exigências e desafios colocados para a Igreja do Brasil e de toda a América Latina

1.Preparação da JMJ-Rio2013
A preparação da JMJ-Rio2013 iniciou logo após a conclusão da Jornada de Madrid. Já no dia 18 de setembro de 2011, a cruz da Jornada e o ícone de Nossa Senhora foram acolhidos, em São Paulo com uma grande manifestação de cerca de 150 mil jovens.
Iniciou-se, então, a peregrinação desses sinais da JMJ por todo o Brasil, percorrendo as 274 circunscrições eclesiásticas do país (dioceses, prelazias territoriais, eparquias e outras), indo ao encontro das realidades mais diversas vividas pelos jovens: paróquias, escolas e universidades, seminários, prisões, locais de recuperação de dependentes químicos, favelas e situações de degrado social.
Em todo lugar, onde os sinais da JMJ passaram, houve manifestações especiais da juventude, de tipo religioso, cultural e social, em preparação à Jornada e a repercussão na opinião pública foi muito boa. A cruz e o ícone da JMJ também foram levados às capitais dos países do Cone Sul da América do Sul (Paraguai, Uruguai, Argentina e Chile)
Finalmente, a cruz e o ícone de Nossa Senhora foram acolhidos pela arquidiocese do Rio de Janeiro, onde passaram por todas as paróquias, para fazer a motivação dos jovens e das comunidades paroquiais para participarem da JMJ.

2.A Semana Missionária
Aquilo que nas Jornadas precedentes foi denominado como “Pre-Jornada”, no caso da JMJ-Rio2013 foi chamado de “Semana Missionária”; esta foi realizada em todas as dioceses do Brasil, a partir de 15 de julho de 2013. Em muitos lugares, já contou com a presença de delegações estrangeiras; mas o objetivo principal era envolver os jovens locais, de cada diocese e comunidade, na preparação próxima da JMJ.
Nas dioceses, a Semana Missionária envolveu as paróquias, comunidades diversas, congregações religiosas, colégios católicos, movimentos eclesiais e organizações juvenis; só na arquidiocese de São Paulo, acolhemos, durante a Semana Missionária, delegações jovens de 58 países diversos, com mais de 10 mil jovens estrangeiros, acolhidos e hospedados, sobretudo, em casas de famílias. Muitos bispos, sacerdotes e religiosos acompanharam esses jovens.
A acolhida e a hospitalidade fazem parte do espírito da JMJ: abrir as portas da casas requer abrir, primeiro, as portas do coração para acolher na própria vida alguém que nunca se viu nem conheceu antes. “Não negligencieis a hospitalidade”, recomenda a Carta aos Hebreus (cf. Hb 13,2). Foi impressionante a disponibilidade de muitas famílias para acolherem os jovens; estava tudo preparado para acolher até 30 mil hóspedes só na arquidiocese de São Paulo.
Um dos frutos positivos dessa semana missionária foi a percepção da própria Igreja como uma grande família, formada por gente de todos os povos, casa comum, onde se vive a mesma fé e a vida é orientada pelos mesmos caminhos indicados por Deus nos Mandamentos; a Igreja é uma grande comunidade espiritual, onde todos estão profundamente unidos por laços de viva fraternidade espiritual e são membros de um mesmo povo de Deus, no qual ninguém mais deve sentir-se estrangeiro, pois todos têm uma pátria comum e são “concidadãos dos santos” (cf. Ef 2,19).
Outro efeito positivo da Semana Missionária foi a percepção da unidade da fé na mesma Igreja, apesar das diferenças de cultura, raça, língua e nação. Muitos perceberam a beleza de ver que o mesmo Pai Nosso é rezado por pessoas do mundo inteiro, a mesma Missa, a mesma profissão de fé, a mesma esperança, a mesma missão... Todos estão unidos em Cristo e são conduzidos pelo mesmo Pastor visível, em nome do Supremo Pastor.
Na Semana Missionária houve a partilha de experiências da fé comum, o intercâmbio cultural e a ação solidária. Os jovens de muitas Comunidades, apoiados por numerosos voluntários, jovens e adultos, fizeram a experiência da oração junto com os jovens peregrinos dos outros países, muitos dos quais vivem a fé em situações marcadas por enormes desafios e sofrimentos.
Também houve o intercâmbio cultural; os jovens de outros países puderam conhecer de perto algo da cultura brasileira. Por sua vez, os jovens locais tiveram a oportunidade de conhecer algo da cultura dos povos e países dos quais os hóspedes provinham.
Na programação da Semana Missionária havia também iniciativas de solidariedade social, como a visita a doentes e pessoas idosas, obras sociais, iniciativas de recuperação de dependentes químicos, prisioneiros, comunidades de favelas...
A Semana Missionária, realizada em todas as dioceses do Brasil, foi uma experiência nova nas JMJs e, em geral, foi avaliada muito positivamente. Houve um envolvimento significativo de paróquias e outras instituições eclesiais. Houve um novo despertar para o trabalho com a juventude. Foi belo ver a hospitalidade das famílias, apesar da insegurança e violência com que se convive todos os dias. Muitas pessoas e famílias abriram suas casas para acolher hóspedes desconhecidos, mas reconhecidos como irmãos e irmãs em Cristo. E essa capacidade de acolhida e hospitalidade surpreendeu positivamente a muitos.
Os jovens peregrinos, por sua vez, deixaram exemplos de sua fé, alegria e esperança e ajudaram a perceber de maneira mais clara que na Igreja todos são irmãos na grande família de Deus.

3.A semana da JMJ Rio – 23 a 28 de julho de 2013
3.1.As Catequeses
As catequeses foram realizadas, como nas Jornadas anteriores, na 4ª. feira, 5ª. feira e 6ª. feira, em 264 locais diversos e em 25 idiomas. Houve muito boa participação dos jovens peregrinos, salvo nos lugares mais distantes (até 60 km do centro do Rio de Janeiro), onde os jovens precisavam sair muito cedo de suas localidades para participar dos outros eventos da Jornada, no centro da cidade.
Os temas das catequeses foram os mesmos para todos os grupos: 1º dia, 24 de julho, “Sede de esperança, sede de Deus”; 2º dia, 25 de julho, “Ser cristãos significa ser discípulos”; 3º dia, 26 de julho, “Ser missionários: Ide!".

3.2.A presença do papa Francisco
O papa Francisco marcou profundamente a JMJ-Rio2013. Antes de se encontrar com os jovens, ele fez uma peregrinação ao Santuário Nacional de Aparecida, onde encontrou numerosos peregrinos, sacerdotes, religiosos e bispos. No Rio de Janeiro, teve ainda vários contatos com autoridades e visitas a locais previstos no programa.
No entanto, o motivo principal de sua viagem ao Brasil foi o encontro com os jovens; com eles, teve 4 momentos marcantes, conforme o programa da JMJ: Acolhida e saudação; Via Crucis; Vigília e Missa de encerramento, com o envio dos jovens. O papa, como um pai e com o coração de pastor, acarinhou e exortou os jovens e se estabeleceu logo uma grande empatia entre eles e o papa, que se dirigiu a eles com uma linguagem direta e fácil, buscando e conseguindo a atenção deles, de maneira extraordinária. E os jovens corresponderam com entusiasmo, enchendo as ruas do Rio e a orla de Copacabana de fé e alegria.
Chamou a atenção para a necessidade de maior solidariedade social, para resolver os problemas da pobreza e da violência no Brasil e no mundo. Alertou os jovens e a todos para não seguirem a mentalidade consumista e para não irem demasiado atrás de coisas que não matam a fome existencial, mas a levar uma vida sóbria e atenta às necessidades do próximo.
O Papa pediu uma Igreja atenta aos jovens, aos quais ela precisa encontrar para lhes comunicar a Boa Nova e a alegria da fé; Igreja deve estar atenta aos jovens, ouvir e dialogar com eles, ajudá-los a se sentirem parte dela. Ao mesmo tempo, nos encontros com os bispos do Brasil e com os diversos responsáveis pelos Departamentos do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM), na Missa celebrada com os bispos e padres na catedral do Rio, ele recomendou com palavras claras e incisivas que a Igreja se volte para “as periferias”, as muitas periferias em que vive o homem de hoje.
O Papa insistiu na renovação missionária da Igreja, conforme orientação do Documento de Aparecida; que é preciso renovar a pastoral, com uma renovada atitude amorosa em relação às pessoas, mais que com métodos sofisticados e estruturas sempre mais pesadas e sufocantes. É necessário que a Igreja esteja próxima das pessoas. E pediu muito que os jovens sejam missionários dos outros jovens, exortando-os a não perderem a esperança, mas a serem para o mundo sinais da esperança que brota do Evangelho.
O próprio papa Francisco, durante a JMJ, deu belos exemplos de como a Igreja pode ser missionária e próxima das pessoas, e como pode dirigir-se com franqueza, simplicidade e solicitude amorosa a todos.
No final do encontro, os jovens foram enviados ao mundo como discípulos-missionários, com as mesmas palavras do Evangelho, que serviram de lema para a Jornada: “Ide, fazei discípulos entre todos os povos” (cf Mt 28,10). E o papa Francisco usou três palavras de ordem para enviar os jovens: a) “ide” – os jovens devem ser parte de uma Igreja missionária, uma Igreja “em saída” (cf Evangelii Gaudium), que se coloca em estado permanente de missão; b) “Sem medo” – com parresia, sem medo de fazer brilhar a luz da fé cristã e irradiando a alegria do Evangelho; c) “para servir” – a evangelização é um serviço ao mundo e à humanidade; transmitir as riquezas do Evangelho e da fé da Igreja é um bem para o homem e o convívio social.

3.3.Números da JMJ Rio2013
Durante uma coletiva de imprensa realizada no dia 30 de julho, Dom Orani João Tempesta, Arcebispo do Rio de Janeiro e presidente do Comitê Organizador Local (COL) da JMJ-Rio2013, apresentou os seguintes dados sobre a JMJ (23-28/07/2013).
No total, mais de 3,5 milhões de pessoas participaram da JMJ-Rio2013, que contou com eventos distribuídos em várias partes da cidade e área metropolitana. A cerimônia de acolhida do Santo Padre, na quinta-feira, 25/07, reuniu 1,2 milhões de pessoas na praia de Copacabana, enquanto a Via-Sacra, no dia 26/07, chegou a 2 milhões. Na vigília, dia 27/07, cerca de 3,5 milhões de jovens estiveram na praia de Copacabana.
O público presente na Missa de envio, dia 28/07, chegou a 3,7 milhões de pessoas, seis vezes maior que o número de presentes na Missa de abertura (600 mil), no dia 24/07. O impacto econômico para a cidade do Rio também foi expressivo. Os visitantes desembolsaram R$ 1,8 bilhões (cerca de U$ 800 milhões), segundo números do Ministério do Turismo.
Foram 427 mil inscrições, de 175 países. Peregrinos inscritos, com hospedagem, alcançaram 356.400, enquanto o número de vagas disponibilizadas para hospedagem em casas de família e várias instituições chegou a 356,4 mil.

3.4.Perfil dos inscritos
A JMJ-Rio2013 contou com uma presença predominante de latino-americanos. Os países com o maior número de inscritos foram, respectivamente, Brasil, Argentina, Estados Unidos, Chile, Itália, Venezuela, França, Paraguai, Peru e México. Do total dos inscritos internacionais, 72,7% estiveram no Brasil pela primeira vez e 86,9% nunca haviam participado de uma JMJ.
A JMJ-Rio2013 alcançou, não apenas um número recorde de peregrinos, mas a grande maioria deles também saiu satisfeita. Pesquisa do Instituto Ibope Inteligência (civil) mostrou que 95% dos participantes da JMJ saíram satisfeitos ou muito satisfeitos com o evento. Além disso, 93% demonstraram a intenção de participar das próximas edições da JMJ e 98% recomendariam o evento para outros jovens.
De acordo com o mesmo estudo, o perfil dos participantes da JMJ-Rio2013 foi o seguinte: jovens até 24 anos de idade foram maioria. Bem 20% dos peregrinos tinham até 17 anos. Entre 18 e 24 anos, somaram 39%. Os participantes de 25 a 39 anos foram 25%, enquanto os de 40 anos ou mais representaram 15%. Entre os peregrinos inscritos, 55% são do sexo feminino e 45% do sexo masculino.
A maior parte dos jovens que participaram da JMJ-Rio2013 havia concluído um curso de ensino superior (52%); 41% tinham concluído o ensino médio. Apenas 7% possuíam somente o ensino básico. A maior parte (58%) está estudando, enquanto 41% não estão. Os solteiros foram 83% dos peregrinos e os casados, 14%.
Em relação à renda familiar, 35% dos peregrinos recebem de 2 a 5 salários mínimos (U$ 550 a 1.800); 22% recebem de 5 a 10 salários mínimos (U$ 1.800 a 3.600). Os jovens cuja renda é mais de 10 salários mínimos representaram 10%, enquanto aqueles que recebem só até 2 mínimos foram 17%.
Os católicos foram 99% dos participantes da JMJ-Rio2013. Os evangélicos foram cerca de 1%. Bem 58% declararam que vão à Igreja diariamente e 35%, ao menos uma vez por semana.
Os bispos inscritos foram 644, dos quais, 28 eram cardeais. Além disso, foram 7814 sacerdotes inscritos e 632 diáconos. Um total de 100 confessionários foram expostos em vários locais; 4 milhões de hóstias foram produzidas; 800 mil foram usadas somente para a Missa de envio.
Para cobrir a JMJ-Rio2013 em 57 países, foram credenciados 6,4 mil jornalistas.
Ao todo, 60 mil voluntários trabalharam na JMJ; mais de 800 artistas participaram dos atos centrais do programa da JMJ.
Dados interessantes, que chamaram a atenção da opinião pública, por revelarem um elevado senso de cidadania e respeito dos jovens da JMJ, foram os seguintes: a quantidade de lixo gerado durante a JMJ foi muito inferior à de outros eventos de massa, que acontecem em Copacabana, como por exemplo, a festa do réveillon. A Companhia Municipal de Limpeza Urbana removeu, durante toda a semana da JMJ, 345 toneladas de resíduos orgânicos e 45 toneladas de materiais recicláveis. Isso representa cerca de 10% a menos do lixo produzido somente numa noite, na festa da chegada do Ano Novo. Durante toda a semana da JMJ não foi registrado nenhum ato de violência nos âmbitos da JMJ, nem se registrou nenhum caso de assassinato, enquanto em todos os dias do ano acontecem vários assassinatos todos os dias no Rio de Janeiro.

4.JMJ-Rio2013 - Uma experiência de peregrinação
Os jovens da JMJ fizeram a experiência da peregrinação na fé, ao encontro dos outros, de si mesmos e ao encontro de Deus, que os atrai de maneira sutil, mas irresistível, para a meta final da existência humana.
Esta peregrinação também foi movida pela busca de fundamentos sólidos, que dêem consistência e sentido à vida e ao convívio humano, onde as diferenças não sejam vistas como barreiras ou fossos intransponíveis, mas como riquezas a compartilhar. Não é também algo disso que se percebe nas manifestações de povo, que acontecem em muitos lugares, com grande adesão de jovens, que descem às ruas e se colocam em marcha para manifestar suas insatisfações e protestos? Aonde querem chegar os jovens?
Protestam contra o que não está bem na política, na economia, nos serviços públicos, no ordenamento social; acreditam que as coisas podem melhorar e têm vontade de contribuir para isso. Nem sempre os clamores estão plenamente afinados, mas é certo que revelam uma desarmonia profunda no convívio político e social. Há a percepção de uma meta, que não é simplesmente uma praça ou uma grande aglomeração humana... Os jovens dão mostras de que não se satisfazem em navegar na rede, nem se conformam com o tentador aceno da corrupção, do degrado moral e cívico. São peregrinos da verdade, da justiça, do amor, da fraternidade. São sinais de esperança de um mundo novo, que sempre se pode recriar com eles, a partir deles e de seus sonhos e anseios.
Os jovens da JMJ-Rio2013 peregrinaram ao encontro do Cristo Redentor, que os esperava de braços abertos, para o amplexo da vida e da esperança. No final da sua peregrinação, eles encontraram novamente a cruz peregrina, que antes foi ao encontro deles nos muitos espaços e ambientes onde vivem. Cruz de madeira, tosca, nada brilhante, como foi a cruz de Cristo, como são as cruzes que abraçamos cada dia.
Em torno dessa cruz, reuniram-se em milhões, com o Papa Francisco, centenas de bispos e milhares de sacerdotes, para proclamar a sua fé no Deus da vida e da esperança; fé que também é necessariamente um compromisso pessoal e comunitário com a edificação de um mundo melhor, como eles bem o sabem sonhar, movido pelo amor, sem mais violência nem cruzes que esmagam a pessoa.

5.Exigências e desafios colocados para a Igreja do Brasil e de toda a América Latina
O que se pode esperar da JMJ-Rio2013? O mesmo que se espera de um campo semeado: quem pode garantir os frutos? O tempo e a paciência os farão aparecer. Sem semear, não há esperança de colher. Vale a pena investir nos jovens.
A JMJ mostrou o rosto jovem da humanidade, que aspira à fraternidade e à paz; é o rosto da humanidade, chamada a formar uma grande família, onde as diferenças não sejam barreiras, mas fatores de enriquecimento recíproco. A JMJ representou o anúncio profético e apresentou uma imagem dessa única e grande família dos filhos e filhas de Deus, desde agora, já reunidos na Igreja de Cristo.
Para a Igreja no Brasil e, provavelmente, também para os demais países da América Latina, a JMJ-Rio2013 trouxe a consciência renovada sobre a importância da evangelização da juventude, como já tem sido destacado nos Documentos das Conferências Gerais do Episcopado da América Latina e do Caribe, especialmente Aparecida e Santo Domingo. Sem um sério trabalho de evangelização da juventude, o futuro da transmissão da fé e da própria vida eclesial nas nossas Comunidades fica comprometido.
Muitas foram as experiências bonitas realizadas na preparação da JMJ e na sua realização, que são promissoras e merecem todo o apreço. Existem ainda párocos que se dedicam aos jovens; Congregações religiosas e Institutos de Vida Consagrada que zelam pelo seu carisma de trabalho com a juventude e a educação; há um esforço apreciável sendo realizado por Movimentos eclesiais e Novas Comunidades de vida apostólica, que dedicam renovada atenção à evangelização dos jovens.
A JMJ foi muito boa para aqueles que participaram dela e também para tantos outros, que se envolveram, de alguma forma, na sua realização. Esses cresceram na fé, no amor à Igreja e no desejo de testemunhar a alegria do Evangelho no mundo. Nunca se poderia pretender que todos os jovens participassem, embora isso poderia ser muito bom para todos eles. Os que participaram, tornaram-se mensageiros e missionários das lições da JMJ para seus países e comunidades.
No entanto, é preciso reconhecer, com realismo e preocupação, que a grande maioria dos jovens não está em contato com a Igreja e a Igreja não está em contato com eles. A opção preferencial pelos jovens está longe de ser uma realidade na maioria de nossas Comunidades Eclesiais. Impressiona-me ver que estamos praticamente ausentes das escolas, colégios e universidades, onde vive a massa dos jovens. Esperamos que os jovens venham às nossas igrejas e estruturas eclesiais, mas talvez, serão apenas 5% dos jovens que frequentam regularmente nossas paróquias e iniciativas eclesiais! Temos algum trabalho com jovens nas paróquias, mas esse trabalho alcança quantos jovens católicos? Talvez 3 a 5%?
Impressionou-me ver que, em São Paulo e no Rio de Janeiro, a maior parte dos jovens presentes nos eventos e catequeses promovidos na Semana Missionária e na JMJ não eram os jovens locais, mas hóspedes e peregrinos. Fica a pergunta: até que ponto, de fato, a JMJ conseguiu envolver e motivar os jovens do lugar, que seriam seus primeiros destinatários e beneficiários?! A maioria dos jovens locais ficou indiferente à JMJ.
A JMJ deixa sérias interrogações às nossas Igrejas particulares e organizações eclesiais sobre a evangelização da juventude e sobre o futuro da transmissão da fé da Igreja. Temos urgente necessidade de um novo interesse dos sacerdotes e religiosos, em geral, pelo trabalho com a juventude; muitos sacerdotes, mesmo jovens, sentem-se inseguros e tímidos para trabalhar com os jovens.
Estamos diante do desafio de fazer presença evangelizadora nos ambientes onde, principalmente, vive a juventude: colégios, universidades e outros ambientes. Temos o desafio de lhes propor itinerários de formação humana e cristã. Os jovens de nossas famílias católicas estão se descristianizando e bebendo, sem resistência, as influências do ambiente e da cultura circunstante, muitas vezes em contraste com o Evangelho!
É preciso chamar em causa e encorajar as Congregações religiosas e Institutos de Vida Consagrada, cujo carisma principal é o trabalho com a educação e com a juventude, que acreditem na importância e na urgência de sua dedicação aos jovens, de acordo com seus carismas próprios. Os Movimentos Eclesiais e Novas Comunidades de vida eclesial podem oferecer uma válida contribuição para a evangelização dos jovens.
Grande parte dos jovens vive em periferias existenciais e nas urbanas pobres das metrópoles e das cidades pequenas, lutando com dificuldades para encontrar seu espaço na vida profissional e social; eles precisam ser apoiados mediante um trabalho social e educativo específico de nossas comunidades eclesiais.
É impressionante ver que a maior parte da população carcerária do Brasil (só do Brasil?!) é formada de jovens que, por várias razões, foram atraídos para o mundo do crime, talvez porque viram aí a opção mais promissora para o seu futuro. Pode ser que os mentores do crime organizado tenham se tornado os verdadeiros mestres, heróis e exemplos para muitos jovens. Isso coloca sérias interrogações sobre os ideais de vida que são propostos para os jovens e nos questiona sobre nosso trabalho evangelizador, para propor aos jovens ideais sérios e altos para sua vida.
Muitos jovens são fascinados pelo consumismo, entretidos o tempo todo com as novas possibilidades de comunicação, extremamente ocupados na busca de seu sucesso profissional e social. Tantas vezes, eles são vítimas de uma cultura de massa, que se lhes impõe de maneira irresistível e os instrumentaliza em função do consumo e da difusão de novos padrões de comportamento e de vida.
Mas não se pode duvidar deque no coração do jovem permanece sempre o desejo de algo bom, grandioso e válido para a realização de sua vida e para a construção de seu futuro. Neste caso, a Igreja tem sempre a possibilidade de encontrar uma porta aberta para entrar no coração dos jovens e para lhes propor Cristo e seu Evangelho, como o bem supremo, a luz e o caminho, que os podem fascinar e preencher sua vida de sentido.

Relato feito na assembléia da Pont. Comissão para a A.Latina em 27.02.2014
Card. Odilo Pedro Scherer

Arcebispo de São Paulo

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