Na abertura da
13ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, com o tema – “A nova
evangelização para a transmissão da fé cristã” – o papa Bento 16 proclamou
“Doutores da Igreja” dois santos: o sacerdote diocesano espanhol São João
d’Ávila e a monja beneditina alemã São Hildegarda de Bingen. Talvez alguém
tenha estranhado; achei muito significativa e feliz essa decisão.
“Doutor da
Igreja” é um título dado pelo Magistério a alguns santos que deram uma
contribuição especial para a proclamação e o ensinamento autêntico da fé da
Igreja Católica; ou que se destacaram na defesa e promoção da fé em momentos
particularmente difíceis. Grandes Doutores da Igreja foram Santo Ambrósio,
Santo Atanásio, São Leão Magno, Santo Agostinho; mas também São Tomás de Aquino,
São Boaventura e Santa Teresa d’Ávila; recentemente, também Santa Teresinha do
Menino Jesus foi proclamada Doutora da Igreja, sobretudo pela “pequena via de
santidade”, que ela viveu e legou à Igreja.
São João d’Ávila
nasceu na Espanha, perto de Toledo, em 6 de janeiro de 1499, um pouco antes de
o Brasil ser “descoberto”; de família rica, foi mandado pelos pais para estudar
Direito na Universidade de Salamanca; mas após uma experiência juvenil de
conversão, deixou os estudos, decidido a dedicar-se à oração, à contemplação;
foi tornar-se sacerdote, depois de ter distribuído seus bens aos pobres.
Aqueles eram tempos difíceis para a Igreja na Europa, onde já começava a
Reforma Protestante. Ao mesmo tempo, um intenso fluxo missionário era orientado
para o “novo mundo“, acompanhando os “descobridores”.
Em Sevilha, sul
da Espanha, São João d’Ávila também se preparava para embarcar para o México
(“Nova Espanha”); mas o bispo local o chamou para evangelizar novamente a
Andaluzia, descristianizada depois de mais de seis séculos de dominação dos
mouros. E ele aí ficou, vivendo de maneira pobre, dedicando-se intensamente à
oração, à pregação e aos estudos. Nesse tempo, foi acusado de “ensinamentos
errôneos” e passou dois anos no cárcere, mas o Tribunal da Inquisição local o
inocentou; e ele continuou com maior intensidade sua ação evangelizadora em
Sevilha, Granada e Córdoba. Outros se uniram a ele. Era a “nova evangelização”
daquela época, mesmo sem usar esse conceito...
Sua grande
preocupação era com a reforma da Igreja e seus esforços voltaram-se para a
melhor formação dos fiéis na fé e a preparação aprimorada dos candidatos ao
sacerdócio; fundou colégios para esse fim, que se tornaram os seminários
“menores” e “maiores”, a pedido do Concílio de Trento, já convocado e reunido
em meados do século 16. Além de várias obras de teologia, escreveu um Catecismo
(Doctrina Cristiana), em versos, para ser cantado por crianças e adultos. Foram
seus amigos, também convertidos, o marquês de Llombai (SãoFrancisco de Borja) e
João Cidad (São João de Deus). Santos fazem santos... Morreu em 10.05.1569.
Enquanto isso, São Inácio de Loyola já havia fundado a Companhia de Jesus; São
Francisco Xavier já tinha partido como missionário para o Oriente e Anchieta já
estava no Brasil, entre os nossos indígenas...
Não é difícil
perceber semelhanças entre a nossa época e a de São João d’Ávila: a forte
descristianização, a necessidade de uma “nova evangelização”, mesmo onde todos
eram tidos como “católicos”, a urgência da Catequese para todos e da melhor
formação do clero, a pregação abundante, compreensível e coerente, a coragem de
tomar iniciativas missionárias novas... Aquela época contou com muitos santos!
Não pode ser diferente em nosso tempo: os santos são os melhores
evangelizadores!
Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo
@DomOdiloScherer
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