Este ano promete
muito. Continuamos a viver o Ano da Fé, já iniciado em outubro passado; com
toda a Igreja, somos chamados a aprofundar a vida na nossa fé cristã católica e
a manifestá-la ao mundo por um testemunho firme, sereno e alegre.
As iniciativas e
manifestações do Ano da Fé têm a finalidade de proporcionar uma renovada
experiência da nossa fé, mediante o encontro com Deus, por meio de Jesus
Cristo. Nossa fé nasce desse encontro e nele se sustenta. Por isso, ela precisa
ser realimentada, de muitas maneiras, e também conhecida melhor nas verdades e
atitudes que decorrem dessa experiência fundante da fé.
O Catecismo da
Igreja Católica deverá ser nosso companheiro diário ao longo deste ano. É nesse
livro que a Igreja explica para si mesma, e para quem se interessar, aquilo que
ela crê e quais são as consequências desse crer para a vida e a conduta cristã
neste mundo. As várias manifestações públicas da fé, programadas para este ano,
deverão ajudar a “dizer” a nós e ao mundo aquilo que cremos. Os momentos
testemunhais são necessários para manifestar a fé, como a missa dominical, as
peregrinações, as festas e solenidades litúrgicas, orações, procissões e
manifestações de cultura popular decorrentes da fé cristã. Sem esquecer a vida
orientada pela fé, que produz obras de caridade, justiça, solidariedade,
respeito e paz...
Ao nosso redor,
sempre mais, ouve-se dizer que a fé religiosa e as convicções morais são
questões da vida privada e que são toleráveis apenas nesse âmbito, mas que não
deveriam ter influência na vida social. Não pensamos assim. Se é verdade que se
deve respeitar a consciência alheia e não impor convicções próprias a ninguém,
também é verdade que as convicções religiosas e morais não devem ficar
restritas à vida privada, mas podem e precisam ser manifestadas abertamente,
também para influenciar o convívio social.
As relações
sociais, políticas, econômicas e culturais não são um espaço neutro, onde os
cidadãos não têm convicções nem as partilham; pelo contrário, é ali que a pluralidade
das convicções é confrontada, complementada e enriquecida. O âmbito do convívio
social e público não poderia ser monopolizado por certo pensamento único, de
algum grupo supostamente detentor do direito de se expressar de modo oficial e
politicamente correto. Isso seria o fim da liberdade de pensamento e de
manifestação das ideias, que inclui a manifestação religiosa. Seria acabar com
as bases do convívio democrático.
Na Arquidiocese
de São Paulo, estamos com um novo Plano de Pastoral, cujo título decorre do Ano
da Fé: “Arquidiocese de São Paulo, testemunha de Jesus Cristo na Cidade”. O
novo plano traz as indicações sobre as urgências que devem mover as iniciativas
de evangelização e de pastoral da Arquidiocese nos próximos anos. A partir da
fé, perguntamo-nos sobre a razão de ser da presença e ação da Igreja na
Metrópole: “sereis minhas testemunhas” (cf At 1,8) – foi essa a síntese do
envio missionário feito por Jesus aos Apóstolos.
Também nossa
Igreja está na Metrópole com esse mesmo objetivo: testemunhar Jesus Cristo,
caminho, verdade e vida; sua presença e ação salvadora; o Evangelho do Reino de
Deus por ele anunciado, que é um bem para todos. Testemunhar sua presença
samaritana e misericordiosa, sua palavra profética, que faz discernir sobre as
muitas situações vividas pela cidade. Testemunhar Jesus Cristo através de cada
membro da Igreja, comunidade de discípulos missionários enviados à cidade para
ser fermento, sal e luz do Reino de Deus.
Testemunhar Jesus
Cristo através de todas as iniciativas religiosas, educacionais, comunicativas
e caritativas; através de cada instituição ou organização da Igreja; através de
cada igreja e capela, paróquia, convento, mosteiro, escola ou obra social; de
cada monumento ou sinal da fé postos na cidade, no centro ou nas periferias, em
lugares públicos ou nos espaços reservados. Que tudo possa ajudar a testemunhar
Jesus Cristo à cidade e mostrar que é bom e faz bem acolher sua presença
salvadora no meio de nós.
Publicado
em O SÃO PAULO,
ed. de 08.01.2013
Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo
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