Nos dias 5 a 19 de outubro
deste ano, o Sínodo dos Bispos reúne-se em assembleia extraordinária, convocada
pelo Papa Francisco, para tratar dos desafios pastorais da família no contexto
atual da evangelização. Mais uma vez, a Igreja mostra sua atenção especial para
com a família, como tem feito muitas vezes no passado recente.
A questão de fundo é a
evangelização: como levar a Boa-Nova de Jesus Cristo e da Igreja às pessoas que
vivem esses desafios? Os problemas enfrentados pela família são antigos e
novos, e o Sínodo não vai fazer uma simples avaliação sociológica sobre o tema em
pauta. Mais que tudo, a própria Igreja se questiona: diante das questões
enfrentadas pela família, o que vamos fazer? Qual será nossa atitude para ser
coerente com a de Cristo, o bom pastor, que “veio buscar e salvar o que estava
perdido”? Ou que ensinou: “não são os sadios que precisam de médico, mas os
doentes”?
Poderíamos ter a tentação de
evangelizar de maneira “genérica”, sem nos defrontarmos com as situações reais
vividas pelas pessoas e famílias; e, assim, nos iludir que a evangelização está
alcançando e envolvendo a todos, mais preocupados em colher frutos do que em
semear... O tema posto pelo Papa Francisco para a próxima assembleia
extraordinária do Sínodo é um convite à Igreja para se deixar questionar pelas
situações reais e desafiadoras vividas pela família, e para se perguntar: como
o anúncio e a missão da Igreja serão “boa-nova” nas mais diversas situações da
família?
Os desafios enfrentados pela
família em nossos tempos também são desafios sérios para a própria ação da
Igreja. A Igreja valoriza muito a família e reconhece nela, além de um desígnio
especial de Deus, também uma expressão de sua própria realidade: a família é
“Igreja doméstica”, célula básica da comunidade humana e eclesial.
De quais desafios se ocupará
o Sínodo? Começa com a acolhida e o conhecimento do desígnio de Deus sobre a
família. A verdade que a Igreja ensina sobre a família está longe de ser
acolhida e aceita por todos; difundiu-se largamente a ideia de que a família é
uma simples criação humana, fruto da evolução da espécie e de suas culturas;
que ela não depende de nada mais do que da vontade do próprio homem e da
sociedade. A partir dessa concepção, a família perde seu referencial sólido,
relegada ao terreno pouco consistente das ideologias e no espaço vaporoso dos gostos
e das culturas.
Damos por suposto que todos
conhecem o fundamento bíblico da família e o desígnio de Deus sobre ela,
explicado pelo Magistério da Igreja; na realidade, porém, isso é largamente
ignorado ou menosprezado. O mesmo se diga em relação à lei natural: sem levar
em conta a lei natural, perde-se de vista o fundamento natural da família e a
palavra da Igreja acaba sendo vista como “imposição religiosa” indevida. A
pretensão do “casamento” de duas pessoas do mesmo sexo parte da confusão grave
decorrente do abandono da lei natural no que diz respeito à pessoa humana, ao
casamento e à família.
Há o drama muito estendido
dos casamentos frustrados, desfeitos e refeitos, que envolvem famílias feridas
e destroçadas e novas uniões a pedir legitimação; também na Igreja, com o
anseio de participar plenamente dos sacramentos e da vida da Igreja. Há também
uma gama imensa de questões relativas ao papel da família nas sociedades
atuais, mais caracterizados como sociedades de indivíduos que produzem e
consomem, do que de pessoas que se relacionam e dependem umas das outras. Há
toda a questão do papel educador da família; e aí se acrescenta o seu papel na
transmissão da fé e na vida da comunidade eclesial.
Ninguém se iluda pensando
que as discussões do Sínodo vão se resumir às questões da comunhão para as
pessoas divorciadas e recasadas, ou às uniões de pessoas do mesmo sexo. Seria
caricatural. A 3ª assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos terá uma vasta
gama de questões a tratar: questões que desafiam a evangelização.
Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo
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