1.Preparação da
JMJ-Rio2013
A
preparação da JMJ-Rio2013 iniciou logo após a conclusão da Jornada de Madrid.
Já no dia 18 de setembro de 2011, a cruz da Jornada e o ícone de Nossa Senhora
foram acolhidos, em São
Paulo com uma grande manifestação de cerca de 150 mil jovens.
Iniciou-se,
então, a peregrinação desses sinais da JMJ por todo o Brasil, percorrendo as
274 circunscrições eclesiásticas do país (dioceses, prelazias territoriais,
eparquias e outras), indo ao encontro das realidades mais diversas vividas
pelos jovens: paróquias, escolas e universidades, seminários, prisões, locais
de recuperação de dependentes químicos, favelas e situações de degrado social.
Em
todo lugar, onde os sinais da JMJ passaram, houve manifestações especiais da
juventude, de tipo religioso, cultural e social, em preparação à Jornada e a
repercussão na opinião pública foi muito boa. A cruz e o ícone da JMJ também
foram levados às capitais dos países do Cone Sul da América do Sul (Paraguai,
Uruguai, Argentina e Chile)
Finalmente,
a cruz e o ícone de Nossa Senhora foram acolhidos pela arquidiocese do Rio de
Janeiro, onde passaram por todas as paróquias, para fazer a motivação dos
jovens e das comunidades paroquiais para participarem da JMJ.
2.A Semana Missionária
Aquilo
que nas Jornadas precedentes foi denominado como “Pre-Jornada”, no caso da
JMJ-Rio2013 foi chamado de “Semana Missionária”; esta foi realizada em todas as
dioceses do Brasil, a partir de 15 de julho de 2013. Em muitos lugares, já
contou com a presença de delegações estrangeiras; mas o objetivo principal era
envolver os jovens locais, de cada diocese e comunidade, na preparação próxima
da JMJ.
Nas
dioceses, a Semana Missionária envolveu as paróquias, comunidades diversas,
congregações religiosas, colégios católicos, movimentos eclesiais e
organizações juvenis; só na arquidiocese de São Paulo, acolhemos, durante a
Semana Missionária, delegações jovens de 58 países diversos, com mais de 10 mil
jovens estrangeiros, acolhidos e hospedados, sobretudo, em casas de famílias.
Muitos bispos, sacerdotes e religiosos acompanharam esses jovens.
A
acolhida e a hospitalidade fazem parte do espírito da JMJ: abrir as portas da
casas requer abrir, primeiro, as portas do coração para acolher na própria vida
alguém que nunca se viu nem conheceu antes. “Não negligencieis a
hospitalidade”, recomenda a Carta aos Hebreus (cf. Hb 13,2). Foi impressionante
a disponibilidade de muitas famílias para acolherem os jovens; estava tudo
preparado para acolher até 30 mil hóspedes só na arquidiocese de São Paulo.
Um
dos frutos positivos dessa semana missionária foi a percepção da própria Igreja
como uma grande família, formada por gente de todos os povos, casa comum, onde
se vive a mesma fé e a vida é orientada pelos mesmos caminhos indicados por
Deus nos Mandamentos; a Igreja é uma grande comunidade espiritual, onde todos
estão profundamente unidos por laços de viva fraternidade espiritual e são
membros de um mesmo povo de Deus, no qual ninguém mais deve sentir-se
estrangeiro, pois todos têm uma pátria comum e são “concidadãos dos santos”
(cf. Ef 2,19).
Outro
efeito positivo da Semana Missionária foi a percepção da unidade da fé na mesma
Igreja, apesar das diferenças de cultura, raça, língua e nação. Muitos
perceberam a beleza de ver que o mesmo Pai Nosso é rezado por pessoas do mundo
inteiro, a mesma Missa, a mesma profissão de fé, a mesma esperança, a mesma
missão... Todos estão unidos em Cristo e são conduzidos pelo mesmo Pastor
visível, em nome do Supremo Pastor.
Na
Semana Missionária houve a partilha de experiências da fé comum, o intercâmbio
cultural e a ação solidária. Os jovens de muitas Comunidades, apoiados por
numerosos voluntários, jovens e adultos, fizeram a experiência da oração junto
com os jovens peregrinos dos outros países, muitos dos quais vivem a fé em
situações marcadas por enormes desafios e sofrimentos.
Também
houve o intercâmbio cultural; os jovens de outros países puderam conhecer de
perto algo da cultura brasileira. Por sua vez, os jovens locais tiveram a
oportunidade de conhecer algo da cultura dos povos e países dos quais os
hóspedes provinham.
Na
programação da Semana Missionária havia também iniciativas de solidariedade
social, como a visita a doentes e pessoas idosas, obras sociais, iniciativas de
recuperação de dependentes químicos, prisioneiros, comunidades de favelas...
A
Semana Missionária, realizada em todas as dioceses do Brasil, foi uma
experiência nova nas JMJs e, em geral, foi avaliada muito positivamente. Houve
um envolvimento significativo de paróquias e outras instituições eclesiais.
Houve um novo despertar para o trabalho com a juventude. Foi belo ver a
hospitalidade das famílias, apesar da insegurança e violência com que se
convive todos os dias. Muitas pessoas e famílias abriram suas casas para
acolher hóspedes desconhecidos, mas reconhecidos como irmãos e irmãs em Cristo. E essa
capacidade de acolhida e hospitalidade surpreendeu positivamente a muitos.
Os
jovens peregrinos, por sua vez, deixaram exemplos de sua fé, alegria e
esperança e ajudaram a perceber de maneira mais clara que na Igreja todos são
irmãos na grande família de Deus.
3.A semana da JMJ Rio
– 23 a 28 de julho de 2013
3.1.As Catequeses
As
catequeses foram realizadas, como nas Jornadas anteriores, na 4ª. feira, 5ª.
feira e 6ª. feira, em 264 locais diversos e em 25 idiomas. Houve muito boa
participação dos jovens peregrinos, salvo nos lugares mais distantes (até 60 km
do centro do Rio de Janeiro), onde os jovens precisavam sair muito cedo de suas
localidades para participar dos outros eventos da Jornada, no centro da cidade.
Os
temas das catequeses foram os mesmos para todos os grupos: 1º dia, 24 de julho,
“Sede de esperança, sede de Deus”; 2º dia, 25 de julho, “Ser cristãos significa
ser discípulos”; 3º dia, 26 de julho, “Ser missionários: Ide!".
3.2.A presença do papa Francisco
O
papa Francisco marcou profundamente a JMJ-Rio2013. Antes de se encontrar com os
jovens, ele fez uma peregrinação ao Santuário Nacional de Aparecida, onde
encontrou numerosos peregrinos, sacerdotes, religiosos e bispos. No Rio de
Janeiro, teve ainda vários contatos com autoridades e visitas a locais
previstos no programa.
No
entanto, o motivo principal de sua viagem ao Brasil foi o encontro com os
jovens; com eles, teve 4 momentos marcantes, conforme o programa da JMJ:
Acolhida e saudação; Via Crucis; Vigília e Missa de encerramento, com o envio
dos jovens. O papa, como um pai e com o coração de pastor, acarinhou e exortou
os jovens e se estabeleceu logo uma grande empatia entre eles e o papa, que se
dirigiu a eles com uma linguagem direta e fácil, buscando e conseguindo a
atenção deles, de maneira extraordinária. E os jovens corresponderam com
entusiasmo, enchendo as ruas do Rio e a orla de Copacabana de fé e alegria.
Chamou
a atenção para a necessidade de maior solidariedade social, para resolver os
problemas da pobreza e da violência no Brasil e no mundo. Alertou os jovens e a
todos para não seguirem a mentalidade consumista e para não irem demasiado
atrás de coisas que não matam a fome existencial, mas a levar uma vida sóbria e
atenta às necessidades do próximo.
O
Papa pediu uma Igreja atenta aos jovens, aos quais ela precisa encontrar para
lhes comunicar a Boa Nova e a alegria da fé; Igreja deve estar atenta aos
jovens, ouvir e dialogar com eles, ajudá-los a se sentirem parte dela. Ao mesmo
tempo, nos encontros com os bispos do Brasil e com os diversos responsáveis
pelos Departamentos do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM), na Missa
celebrada com os bispos e padres na catedral do Rio, ele recomendou com
palavras claras e incisivas que a Igreja se volte para “as periferias”, as
muitas periferias em que vive o homem de hoje.
O
Papa insistiu na renovação missionária da Igreja, conforme orientação do
Documento de Aparecida; que é preciso renovar a pastoral, com uma renovada
atitude amorosa em relação às pessoas, mais que com métodos sofisticados e
estruturas sempre mais pesadas e sufocantes. É necessário que a Igreja esteja
próxima das pessoas. E pediu muito que os jovens sejam missionários dos outros
jovens, exortando-os a não perderem a esperança, mas a serem para o mundo
sinais da esperança que brota do Evangelho.
O
próprio papa Francisco, durante a JMJ, deu belos exemplos de como a Igreja pode
ser missionária e próxima das pessoas, e como pode dirigir-se com franqueza,
simplicidade e solicitude amorosa a todos.
No
final do encontro, os jovens foram enviados ao mundo como
discípulos-missionários, com as mesmas palavras do Evangelho, que serviram de
lema para a Jornada: “Ide, fazei discípulos entre todos os povos” (cf Mt
28,10). E o papa Francisco usou três palavras de ordem para enviar os jovens:
a) “ide” – os jovens devem ser parte de uma Igreja missionária, uma Igreja “em
saída” (cf Evangelii Gaudium), que se coloca em estado permanente de missão; b)
“Sem medo” – com parresia, sem medo de fazer brilhar a luz da fé cristã e
irradiando a alegria do Evangelho; c) “para servir” – a evangelização é um
serviço ao mundo e à humanidade; transmitir as riquezas do Evangelho e da fé da
Igreja é um bem para o homem e o convívio social.
3.3.Números da JMJ Rio2013
Durante
uma coletiva de imprensa realizada no dia 30 de julho, Dom Orani João Tempesta,
Arcebispo do Rio de Janeiro e presidente do Comitê Organizador Local (COL) da
JMJ-Rio2013, apresentou os seguintes dados sobre a JMJ (23-28/07/2013).
No
total, mais de 3,5 milhões de pessoas participaram da JMJ-Rio2013, que contou
com eventos distribuídos em várias partes da cidade e área metropolitana. A
cerimônia de acolhida do Santo Padre, na quinta-feira, 25/07, reuniu 1,2
milhões de pessoas na praia de Copacabana, enquanto a Via-Sacra, no dia 26/07,
chegou a 2 milhões. Na vigília, dia 27/07, cerca de 3,5 milhões de jovens
estiveram na praia de Copacabana.
O
público presente na Missa de envio, dia 28/07, chegou a 3,7 milhões de pessoas,
seis vezes maior que o número de presentes na Missa de abertura (600 mil), no
dia 24/07. O impacto econômico para a cidade do Rio também foi expressivo. Os
visitantes desembolsaram R$ 1,8 bilhões (cerca de U$ 800 milhões), segundo
números do Ministério do Turismo.
Foram
427 mil inscrições, de 175 países. Peregrinos inscritos, com hospedagem,
alcançaram 356.400, enquanto o número de vagas disponibilizadas para hospedagem
em casas de família e várias instituições chegou a 356,4 mil.
3.4.Perfil dos inscritos
A
JMJ-Rio2013 contou com uma presença predominante de latino-americanos. Os
países com o maior número de inscritos foram, respectivamente, Brasil,
Argentina, Estados Unidos, Chile, Itália, Venezuela, França, Paraguai, Peru e
México. Do total dos inscritos internacionais, 72,7% estiveram no Brasil pela
primeira vez e 86,9% nunca haviam participado de uma JMJ.
A
JMJ-Rio2013 alcançou, não apenas um número recorde de peregrinos, mas a grande
maioria deles também saiu satisfeita. Pesquisa do Instituto Ibope Inteligência
(civil) mostrou que 95% dos participantes da JMJ saíram satisfeitos ou muito
satisfeitos com o evento. Além disso, 93% demonstraram a intenção de participar
das próximas edições da JMJ e 98% recomendariam o evento para outros jovens.
De
acordo com o mesmo estudo, o perfil dos participantes da JMJ-Rio2013 foi o
seguinte: jovens até 24 anos de idade foram maioria. Bem 20% dos peregrinos
tinham até 17 anos. Entre 18 e 24 anos, somaram 39%. Os participantes de 25 a
39 anos foram 25%, enquanto os de 40 anos ou mais representaram 15%. Entre os peregrinos
inscritos, 55% são do sexo feminino e 45% do sexo masculino.
A
maior parte dos jovens que participaram da JMJ-Rio2013 havia concluído um curso
de ensino superior (52%); 41% tinham concluído o ensino médio. Apenas 7%
possuíam somente o ensino básico. A maior parte (58%) está estudando, enquanto
41% não estão. Os solteiros foram 83% dos peregrinos e os casados, 14%.
Em
relação à renda familiar, 35% dos peregrinos recebem de 2 a 5 salários mínimos
(U$ 550 a 1.800); 22% recebem de 5 a 10 salários mínimos (U$ 1.800 a 3.600). Os
jovens cuja renda é mais de 10 salários mínimos representaram 10%, enquanto
aqueles que recebem só até 2 mínimos foram 17%.
Os
católicos foram 99% dos participantes da JMJ-Rio2013. Os evangélicos foram
cerca de 1%. Bem 58% declararam que vão à Igreja diariamente e 35%, ao menos
uma vez por semana.
Os
bispos inscritos foram 644, dos quais, 28 eram cardeais. Além disso, foram 7814
sacerdotes inscritos e 632 diáconos. Um total de 100 confessionários foram
expostos em vários locais; 4 milhões de hóstias foram produzidas; 800 mil foram
usadas somente para a Missa de envio.
Para
cobrir a JMJ-Rio2013 em 57 países, foram credenciados 6,4 mil jornalistas.
Ao
todo, 60 mil voluntários trabalharam na JMJ; mais de 800 artistas participaram
dos atos centrais do programa da JMJ.
Dados
interessantes, que chamaram a atenção da opinião pública, por revelarem um
elevado senso de cidadania e respeito dos jovens da JMJ, foram os seguintes: a
quantidade de lixo gerado durante a JMJ foi muito inferior à de outros eventos
de massa, que acontecem em Copacabana, como por exemplo, a festa do réveillon.
A Companhia Municipal de Limpeza Urbana removeu, durante toda a semana da JMJ,
345 toneladas de resíduos orgânicos e 45 toneladas de materiais recicláveis. Isso
representa cerca de 10% a menos do lixo produzido somente numa noite, na festa
da chegada do Ano Novo. Durante toda a semana da JMJ não foi registrado nenhum
ato de violência nos âmbitos da JMJ, nem se registrou nenhum caso de
assassinato, enquanto em todos os dias do ano acontecem vários assassinatos
todos os dias no Rio de Janeiro.
4.JMJ-Rio2013 - Uma
experiência de peregrinação
Os
jovens da JMJ fizeram a experiência da peregrinação na fé, ao encontro dos
outros, de si mesmos e ao encontro de Deus, que os atrai de maneira sutil, mas
irresistível, para a meta final da existência humana.
Esta
peregrinação também foi movida pela busca de fundamentos sólidos, que dêem
consistência e sentido à vida e ao convívio humano, onde as diferenças não
sejam vistas como barreiras ou fossos intransponíveis, mas como riquezas a
compartilhar. Não é também algo disso que se percebe nas manifestações de povo,
que acontecem em muitos lugares, com grande adesão de jovens, que descem às
ruas e se colocam em marcha para manifestar suas insatisfações e protestos?
Aonde querem chegar os jovens?
Protestam
contra o que não está bem na política, na economia, nos serviços públicos, no
ordenamento social; acreditam que as coisas podem melhorar e têm vontade de
contribuir para isso. Nem sempre os clamores estão plenamente afinados, mas é
certo que revelam uma desarmonia profunda no convívio político e social. Há a
percepção de uma meta, que não é simplesmente uma praça ou uma grande
aglomeração humana... Os jovens dão mostras de que não se satisfazem em navegar
na rede, nem se conformam com o tentador aceno da corrupção, do degrado moral e
cívico. São peregrinos da verdade, da justiça, do amor, da fraternidade. São
sinais de esperança de um mundo novo, que sempre se pode recriar com eles, a
partir deles e de seus sonhos e anseios.
Os
jovens da JMJ-Rio2013 peregrinaram ao encontro do Cristo Redentor, que os
esperava de braços abertos, para o amplexo da vida e da esperança. No final da
sua peregrinação, eles encontraram novamente a cruz peregrina, que antes foi ao
encontro deles nos muitos espaços e ambientes onde vivem. Cruz de madeira,
tosca, nada brilhante, como foi a cruz de Cristo, como são as cruzes que
abraçamos cada dia.
Em
torno dessa cruz, reuniram-se em milhões, com o Papa Francisco, centenas de
bispos e milhares de sacerdotes, para proclamar a sua fé no Deus da vida e da
esperança; fé que também é necessariamente um compromisso pessoal e comunitário
com a edificação de um mundo melhor, como eles bem o sabem sonhar, movido pelo
amor, sem mais violência nem cruzes que esmagam a pessoa.
5.Exigências e
desafios colocados para a Igreja do Brasil e de toda a América Latina
O
que se pode esperar da JMJ-Rio2013? O mesmo que se espera de um campo semeado:
quem pode garantir os frutos? O tempo e a paciência os farão aparecer. Sem
semear, não há esperança de colher. Vale a pena investir nos jovens.
A
JMJ mostrou o rosto jovem da humanidade, que aspira à fraternidade e à paz; é o
rosto da humanidade, chamada a formar uma grande família, onde as diferenças
não sejam barreiras, mas fatores de enriquecimento recíproco. A JMJ representou
o anúncio profético e apresentou uma imagem dessa única e grande família dos
filhos e filhas de Deus, desde agora, já reunidos na Igreja de Cristo.
Para
a Igreja no Brasil e, provavelmente, também para os demais países da América
Latina, a JMJ-Rio2013 trouxe a consciência renovada sobre a importância da
evangelização da juventude, como já tem sido destacado nos Documentos das
Conferências Gerais do Episcopado da América Latina e do Caribe, especialmente
Aparecida e Santo Domingo. Sem um sério trabalho de evangelização da juventude,
o futuro da transmissão da fé e da própria vida eclesial nas nossas Comunidades
fica comprometido.
Muitas
foram as experiências bonitas realizadas na preparação da JMJ e na sua
realização, que são promissoras e merecem todo o apreço. Existem ainda párocos
que se dedicam aos jovens; Congregações religiosas e Institutos de Vida
Consagrada que zelam pelo seu carisma de trabalho com a juventude e a educação;
há um esforço apreciável sendo realizado por Movimentos eclesiais e Novas
Comunidades de vida apostólica, que dedicam renovada atenção à evangelização
dos jovens.
A
JMJ foi muito boa para aqueles que participaram dela e também para tantos
outros, que se envolveram, de alguma forma, na sua realização. Esses cresceram
na fé, no amor à Igreja e no desejo de testemunhar a alegria do Evangelho no
mundo. Nunca se poderia pretender que todos os jovens participassem, embora
isso poderia ser muito bom para todos eles. Os que participaram, tornaram-se
mensageiros e missionários das lições da JMJ para seus países e comunidades.
No
entanto, é preciso reconhecer, com realismo e preocupação, que a grande maioria
dos jovens não está em contato com a Igreja e a Igreja não está em contato com
eles. A opção preferencial pelos jovens está longe de ser uma realidade na
maioria de nossas Comunidades Eclesiais. Impressiona-me ver que estamos
praticamente ausentes das escolas, colégios e universidades, onde vive a massa
dos jovens. Esperamos que os jovens venham às nossas igrejas e estruturas
eclesiais, mas talvez, serão apenas 5% dos jovens que frequentam regularmente
nossas paróquias e iniciativas eclesiais! Temos algum trabalho com jovens nas
paróquias, mas esse trabalho alcança quantos jovens católicos? Talvez 3 a 5%?
Impressionou-me
ver que, em São Paulo
e no Rio de Janeiro, a maior parte dos jovens presentes nos eventos e
catequeses promovidos na Semana Missionária e na JMJ não eram os jovens locais,
mas hóspedes e peregrinos. Fica a pergunta: até que ponto, de fato, a JMJ
conseguiu envolver e motivar os jovens do lugar, que seriam seus primeiros
destinatários e beneficiários?! A maioria dos jovens locais ficou indiferente à
JMJ.
A
JMJ deixa sérias interrogações às nossas Igrejas particulares e organizações
eclesiais sobre a evangelização da juventude e sobre o futuro da transmissão da
fé da Igreja. Temos urgente necessidade de um novo interesse dos sacerdotes e
religiosos, em geral, pelo trabalho com a juventude; muitos sacerdotes, mesmo
jovens, sentem-se inseguros e tímidos para trabalhar com os jovens.
Estamos
diante do desafio de fazer presença evangelizadora nos ambientes onde,
principalmente, vive a juventude: colégios, universidades e outros ambientes.
Temos o desafio de lhes propor itinerários de formação humana e cristã. Os
jovens de nossas famílias católicas estão se descristianizando e bebendo, sem
resistência, as influências do ambiente e da cultura circunstante, muitas vezes
em contraste com o Evangelho!
É
preciso chamar em causa e encorajar as Congregações religiosas e Institutos de
Vida Consagrada, cujo carisma principal é o trabalho com a educação e com a
juventude, que acreditem na importância e na urgência de sua dedicação aos
jovens, de acordo com seus carismas próprios. Os Movimentos Eclesiais e Novas
Comunidades de vida eclesial podem oferecer uma válida contribuição para a
evangelização dos jovens.
Grande
parte dos jovens vive em periferias existenciais e nas urbanas pobres das metrópoles
e das cidades pequenas, lutando com dificuldades para encontrar seu espaço na
vida profissional e social; eles precisam ser apoiados mediante um trabalho
social e educativo específico de nossas comunidades eclesiais.
É
impressionante ver que a maior parte da população carcerária do Brasil (só do
Brasil?!) é formada de jovens que, por várias razões, foram atraídos para o
mundo do crime, talvez porque viram aí a opção mais promissora para o seu
futuro. Pode ser que os mentores do crime organizado tenham se tornado os
verdadeiros mestres, heróis e exemplos para muitos jovens. Isso coloca sérias
interrogações sobre os ideais de vida que são propostos para os jovens e nos
questiona sobre nosso trabalho evangelizador, para propor aos jovens ideais
sérios e altos para sua vida.
Muitos
jovens são fascinados pelo consumismo, entretidos o tempo todo com as novas
possibilidades de comunicação, extremamente ocupados na busca de seu sucesso
profissional e social. Tantas vezes, eles são vítimas de uma cultura de massa,
que se lhes impõe de maneira irresistível e os instrumentaliza em função do
consumo e da difusão de novos padrões de comportamento e de vida.
Mas
não se pode duvidar deque no coração do jovem permanece sempre o desejo de algo
bom, grandioso e válido para a realização de sua vida e para a construção de
seu futuro. Neste caso, a Igreja tem sempre a possibilidade de encontrar uma
porta aberta para entrar no coração dos jovens e para lhes propor Cristo e seu
Evangelho, como o bem supremo, a luz e o caminho, que os podem fascinar e
preencher sua vida de sentido.
Relato
feito na assembléia da Pont. Comissão para a A.Latina em 27.02.2014
Card.
Odilo Pedro Scherer
Arcebispo
de São Paulo