Até dia 28 de outubro,
cerca de 170 bispos do mundo inteiro, representando as Conferências Episcopais,
além de outros, especialmente convocados pelo Papa, estarão refletindo na 13ª.
Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, em Roma, sobre o tema “nova evangelização
para a transmissão da fé cristã”.
Também
participarão, como convidados, representantes do clero, das organizações dos leigos,
da Vida Consagrada Religiosa e de várias Instituições da Igreja, além de
peritos sobre os temas tratados. No final e três semanas de muito ouvir, de
intensa união de esforços em vista de um caminho comum da Igreja (“sínodo”
significa isso!), espera-se que a assembleia sinodal possa apontar caminhos
para uma renovação da evangelização e da transmissão da fé.
De
fato, duas são as questões postas pelo tema: a evangelização e a transmissão da
fé cristã. Ambas são dependentes e relacionadas entre si. A Igreja tem
consciência de que sua missão é evangelizar, ou seja, proclamar e testemunhar
ao mundo o Evangelho do Reino de Deus. E isso, com o objetivo de despertar nas
pessoas a atenção e o interesse pelo Evangelho e de ajudá-las a chegar ao ato
de fé. Essa é a razão de ser da evangelização: ajudar a chegar à fé cristã,
transmitir esta fé aos outros, com a ajuda da graça de Deus.
Nem
sempre esse objetivo é alcançado. O semeador tem a consciência de que sua missão
é lançar as sementes à terra; ele faltará para com sua tarefa se deixar de o
fazer; ele sabe de antemão que muita semente preciosa cairá em terreno duro,
entre espinhos, ou sobre as pedras; nem por isso ele não deixa de semear. E
também vai animado pela esperança que muita semente cairá em terreno bom e
acabará produzindo o fruto esperado...
Por
qual motivo esse tema foi escolhido para a 13ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo
dos Bispos? As explicações podem ser diversas; mas é certo que há uma séria crise
na evangelização e na transmissão da fé em nossos dias, em várias partes do mundo.
Há falhas na evangelização, por ser insuficiente, inadequada, ou desfocada; e quando
a proclamação da Boa Nova não é feita bem, os frutos não aparecem.
Talvez
os evangelizadores não estejam sendo bastante convincentes, por várias razões; ou
os ouvintes não estão interessados e não conseguimos interessá-los; talvez o momento
cultural (“mudança de época”...) não está sendo propício para o anúncio sério e
frutuoso do Evangelho... Nada disso, porém, pode justificar a cessação do
processo evangelizador. É preciso continuar a buscar uma saída, a contar com a
graça de Deus, mais poderosa que nossos discursos e métodos. A evangelização
não pode parar, pois seria a falência da missão que a Igreja recebeu de Cristo.
Além
disso, a transmissão da fé está sendo fraca, ou está até mesmo sendo interrompida
em muitas situações e lugares. É bem sabida a dificuldade que os pais, mesmo fervorosos,
têm para transmitir a fé aos filhos; e quando as novas gerações não abraçam mais
a fé, deixam de receber o Sacramento do Matrimônio e de formar uma família cristã,
constituída sobre as bases da fé e da vivência cristã, quando deixam de pedir o
Batismo para os filhos e de os apresentar para a catequese de iniciação à fé e
à vida cristã, estamos diante do fato lamentável da interrupção do processo da
transmissão da fé, de geração em geração; e os casos não são raros! Estamos
diante de um “novo paganismo”, que nasce e se desenvolve, muitas vezes, dentro
dos próprios ambientes católicos. Esta questão é muito grave e desafiadora para
a missão da Igreja!
Os
motivos por que isso acontece são muitos e não devem ser atribuídos apressadamente
à culpa de quem quer que seja. Não se trata de achar culpados, mas de agir
adequadamente. A análise das causas ajuda a entender o fenômeno, que se passa debaixo
de nossos olhos; mas a simples compreensão do fenômeno, por muito que seja importante,
ainda não é a solução.
Não
há mistérios nem fórmulas mágicas. Passou o tempo em que a fé era transmitida espontaneamente
e vivida no ritmo da tradição e da pressão social. A questão toda é evangelizar
de novo e fazê-lo bem. Ou a Igreja retoma com vigor a evangelização, feita de
muitas maneiras; ou então, a fé deixa de ser transmitida. É como fechar um
registro: a água não passa mais...
Cardeal D.Odilo P. Scherer
Arcebispo de São Paulo
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