1-Quais
fatos motivaram o Papa Bento 16 a convocar a 13ª assembleia geral ordinária do
Sínodo dos Bispos, que este ano tem como tema “A Nova Evangelização para a
Transmissão da Fé Cristã”?
R.
A próxima assembleia do Sínodo dos Bispos é “ordinária” e ocorre dentro do
tempo normalmente previsto de 4 a 5 anos entre uma e outra assembleia
ordinária. A escolha do tema é que tem motivações próprias: a crise bastante
generalizada da fé e da prática religiosa, o relativismo e o indiferentismo
religioso, a superficialidade na adesão de fé e a necessidade de retomar a
evangelização, diante de situações e desafios novos trazidos pelas mudanças
culturais e religiosas do nosso tempo.
2-
A partir de que considerações o Instrumento de Trabalho norteará a assembléia?
R.
O Instrumento de Trabalho propõe a reflexão no contexto do 50º aniversário do
Concílio Ecumênico Vaticano II; partindo de Jesus Cristo, “Evangelho de Deus
para o mundo”, que a Igreja anuncia e testemunha aos homens de todos os tempos,
trata-se, a seguir, dos vários cenários que a missão evangelizadora da Igreja
atualmente enfrenta; fala-se da missão da Igreja, que é permanente e sempre
atual. Depois o Instrumento de Trabalho trata da transmissão da fé e da
revitalização da ação pastoral da Igreja que, na minha visão, são as questões
centrais do tema do Sínodo.
3-De
que critérios e colaborações os organizadores do Sínodo se valeram para eleger
essas questões como fundamentais?
R.
Uma consulta ampla às Conferências Episcopais de todo o mundo, ao próprio
Conselho do Sínodo dos Bispos e a outros Organismos da vida eclesial ajudaram a
escolher essas questões.
4-
Em linhas gerais, qual o teor das contribuições oferecidas pelas dioceses brasileiras
ao Instrumento de Trabalho?
R.
Elas também foram consultadas e houve contribuições importantes, mesmo se não
foram tão abundantes; essas contribuições referem-se a experiências já
adquiridas no Brasil na promoção da “nova evangelização”, como as missões
populares, as visitas domiciliares, os projetos de evangelização da CNBB...
5-
O termo Nova Evangelização remete a ações junto às populações da Europa que
depois de difundirem o cristianismo no Novo Mundo, hoje se mostram afastadas da
fé. A Igreja pretende alcançar outras comunidades com a Nova Evangelização,
especialmente na América Latina onde, além do arrefecimento da fé, tem-se
presenciado o surgimento de inúmeras seitas religiosas?
R.
Um dos motivos para a criação do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova
Evangelização, pelo papa Bento XVI, foi a renovada ação evangelizadora nos
lugares de “antiga evangelização”, como o Oriente Médio, o Norte da África e
mesmo uma parte da Europa. O Sínodo, porém, tem uma preocupação ainda mais
abrangente e trata da necessidade de fazer isso em todo o mundo, mesmo nos
lugares de evangelização “recente”, como a América, a Oceania e a África. O
motivo é que a missão da Igreja nunca pode ser tida como “já concluída” e
precisa ser promovida sempre de novo.
6-
A Nova Evangelização deveria também voltar-se para o interior da própria
Igreja? De que forma?
R.
Evidentemente, a própria Igreja, entendida como a Comunidade dos batizados, é
sempre a primeira destinatária da evangelização; há muitos membros da Igreja
que nunca foram evangelizados e, outros, que esfriaram na fé, ou abandonaram a
prática religiosa e a fé; eles são filhos da Igreja, que precisam muito de uma
nova evangelização. E as instituições da Igreja e suas organizações pastorais
também precisam de um sopro novo de evangelização, para reflorescerem e
produzirem novos e abundantes frutos.
7-
No Brasil, especialmente, como a Nova Evangelização poderia acorrer?
R.
De fato, ela já está ocorrendo; aos poucos, cresce a consciência de que é preciso
colocar-se novamente “em estado de missão” ; muitas novas formas e métodos de
evangelização estão aparecendo, embora isso ainda precise desenvolver-se muito
mais. No Brasil e na América Latina, em geral, fala-se de nova evangelização
desde a Conferência de Santo Domingo (1992); tratou-se também disso no Sínodo
para a América (1998) e, de maneira incisiva, na Conferência de Aparecida
(2007).
8-
Por que um Sínodo sobre Nova Evangelização, se há tantos anos se vem falando
sobre esse tema na Igreja?
R.
Porque agora se percebe de maneira mais clara que isso não é apenas uma
necessidade local, em algum país, mas em todo o mundo. Os tempos mudaram e a
Igreja está atenta aos sinais dos tempos, dando-se conta de que é preciso retomar
o processo evangelizador, que nunca pode ser dado como “já concluído”, de uma
vez para sempre. O Papa João Paulo II, na Carta Apostólica “Novo Millennio
ineunte” (Entrando no Novo Milênio, 2001), observou que a evangelização, longe
de concluída, estava apenas no começo; e convocou todos os fiéis a colocarem
mãos à obra... Não é a primeira vez que se faz necessária uma nova
evangelização; mesmo sem usar esse conceito, o mesmo processo já aconteceu
várias vezes na história da Igreja. E sempre trouxe muitos frutos.
9
- Que novidades o termo Nova Evangelização poderia oferecer em relação à
evangelização realizada continuamente pela Igreja?
R.
Em primeiro lugar, coloca em evidência que não podemos pressupor que a
evangelização já foi feita; quando olhamos atentamente para a realidade, constatamos
que a evangelização precisa retomar sempre, mesmo nas famílias e comunidades
tradicionalmente bem católicas... Por outro lado, as atitudes e os métodos
precisam renovar-se; já não basta dizer que temos igrejas e essas estão abertas
para todos, que todos são bem-vindos... É preciso ir ao encontro dos que não
vêm e não virão, se não forem buscados e chamados; além disso, não basta uma
evangelização superficial, mas é preciso ajudar as pessoas a fazerem uma
experiência forte e alegre da fé, cuidando da iniciação à vida cristã em
profundidade; diante da diversidade religiosa e do ambiente não mais favorável
à transmissão espontânea da fé, é preciso, mais do que nunca, formar bem o
cristão católico e dar-lhe condições para que sinta segurança e alegria na sua
fé e na sua Igreja.
10-
Como o senhor avalia a realização do Sínodo dos Bispos, no momento em que se
comemora os 50 anos da convocação do Concílio Vaticano 2º, os 20 anos do
Catecismo da Igreja Católica e a convocação do Ano da Fé pelo Papa Bento 16?
R.
Todos esses fatos e eventos estão relacionados e se completam. O primeiro
objetivo da convocação do Concílio Vaticano II, pelo Beato João XXIII, foi o
“incremento da fé católica”, ou seja, a renovação, o revigoramento e a renovada
difusão da fé da Igreja; o Catecismo da Igreja Católica, que completa 20 anos,
foi um fruto do Concílio e devia ajudar a alcançar aquele objetivo primeiro; e
o tema do Sínodo deste ano vai nessa mesma linha. Creio que este é um momento
de Deus na vida da Igreja e traz a esperança de frutos abundantes.
11-
Que papel tiveram os leigos, tão valorizados pelo Vaticano 2º, na produção do
Instrumento de Trabalho, e como poderiam atuar na execução das propostas
apresentadas pelo sínodo?
R.
Normalmente, os leigos também deveriam ter participado da elaboração de
propostas para o Sínodo no momento das consultas as dioceses; posso afirmar
que, em São Paulo,
houve a participação dos leigos nessa consulta. Na assembleia do Sínodo serão
elaboradas muitas propostas e o Papa, como sempre costuma fazer, fará o
Documento pós-sinodal, na forma de uma Exortação Apostólica; o que se espera, é
que os resultados do Sínodo sejam acolhidos bem por todos e, a partir deles, a
nova evangelização seja feita com o esforço e o dinamismo de todos.
12-
Que frutos a Igreja pretende colher com o sínodo?
R.
Na obra da Igreja, os frutos nem sempre aparecem logo, mas tenho a convicção
que serão muitos; eles não serão automáticos, mas dependerão de nosso esforço,
unido à ação do Espírito Santo. Posso imaginar que surjam muitas iniciativas
missionárias novas, Congregações religiosas e associações de fiéis voltadas
para esse fim; e também, uma nova solidariedade missionária entre as Comunidades
da Igreja nas várias partes do mundo. A Igreja espera e precisa de um novo e
amplo despertar missionário. Mas, como tudo isso é obra da fé, a Igreja
precisa, antes de tudo, renovar-se na fé.