O Brasil está
assistindo ao julgamento do “mensalão” pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Depois de vários anos de denúncias, investigações e processos políticos no
Congresso Nacional, agora chegou a vez de a Suprema Corte do País se
pronunciar: se houve crimes qualificados pelo Código Penal e se haverá
condenação ou absolvição dos indiciados no processo. O Brasil espera que esse
julgamento seja exemplar e constitua uma virada de página na história de
corrupções e desonestidades no uso do poder político.
A corrupção é uma
das maiores manchas da política nacional. Não é inevitável que o poder
corrompa, como afirma o ditado popular. O poder legitimamente conferido é, por
natureza, um serviço ao bem comum; mas a tentação do mau uso do poder, em
função de vantagens ilícitas e até claramente desonestas e lesivas do bem
comum, pode ser muito forte. Por isso, requer-se honestidade e retidão de
caráter de quem está investido de poder em qualquer instância. E à sociedade
cabe vigilância e controle permanente sobre o poder.
O problema da
corrupção, porém, não se restringe às altas ou baixas esferas do poder público;
a tentação ronda igualmente o cidadão comum, nas suas relações sociais e até
familiares. De fato, o desrespeito ao bem alheio, o roubo, a desonestidade nas
relações sociais estão presentes por toda parte; com muita frequência, o roubo
vem acompanhado de ações violentas e até de assassinatos; assaltos à mão armada
e sequestros criam um clima de medo e insegurança, aterrorizam muitas pessoas,
que recorrem a todo tipo de expedientes para se proteger e defender.
Resolveria fazer
mais leis, tornar as penas mais rígidas, construir mais cadeias? Certamente, as
autoridades competentes precisam agir de maneira adequada para dar segurança à
população; porém, nenhuma lei escrita será suficiente e eficaz, se não houver a
percepção clara e o respeito da lei moral, que está inscrita na consciência:
não roubarás. A corrupção em escala política ou nas relações sociais e
interpessoais, de fato, tem suas origens na corrupção da consciência moral e do
caráter das pessoas. Corrupção equivale a deterioração, que também é
qualificada como podridão. Aquilo que está corrompido perde qualidade e tende a
se desintegrar. Geralmente, a corrupção da consciência moral não se expressa
apenas em algum comportamento desonesto isolado, mas numa série de atos e
atitudes desaprováveis. A corrupção da consciência moral é um fato muito grave,
cujas consequências são as desonestidades, a dissolução dos costumes, a perda
de qualidade nos comportamentos e nas relações humanas e da própria dignidade.
Eis, então, que é
mais que oportuno recordar o sétimo mandamento da Lei de Deus: “não roubar”:
simples, claro, sem rodeios, eis o que é moralmente bom. Assim o percebe a
consciência, mesmo sem grande necessidade de formação. Não daria para afirmar
que o contrário é moralmente bom. Roubar não é bom, não é um bem moral. Nem
quando daí decorrem vantagens. A vantagem e a utilidade não são critérios que
qualificam os atos como moralmente bons; infelizmente, esse é um equívoco
frequente.
Temos urgente
necessidade de formar a consciência moral pela educação, em todos os momentos
da vida; a formação da consciência moral começa na infância e para isso
contribuem muito os exemplos dos adultos. É necessário educar o caráter, para
que seja reto e forte e não se deixe levar pela tentação! E isso vale para
todos.
Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo
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