Por
Edcarlos Bispo
Na
Quarta-feira de Cinzas, 18, iniciou-se na Igreja o período da Quaresma. É um
momento de reflexão e meditação voltado ao jejum, oração e esmola. No Brasil, a
Igreja realiza durante esse período a Campanha da Fraternidade (CF).
Neste
ano, o tema da CF, “Fraternidade: Igreja e sociedade”, quer aprofundar, à luz
do Evangelho, “o diálogo e a colaboração entre a Igreja e a sociedade,
propostos pelo Concílio Ecumênico Vaticano II, como serviço ao povo brasileiro,
para a edificação do Reino de Deus”, descreve o Texto Base da Campanha.
O
documento apresenta seis objetivos específicos: “Fazer memória do caminho
percorrido pela Igreja com a sociedade, identificar e compreender os principais
desafios da situação atual; Apresentar os valores espirituais do Reino de Deus
e da doutrina Social da Igreja, como elementos autenticamente humanizantes;
Identificar as questões desafiadoras na evangelização da sociedade e
estabelecer parâmetros e indicadores para a ação pastoral; Aprofundar a compreensão
da dignidade da pessoa, da integridade da criação, da cultura da paz, do
espírito e do diálogo inter-religioso e intercultural, para superar as relações
desumanas e violentas; Buscar novos métodos, atitudes e linguagens na missão da
Igreja de Cristo de levar a Boa-Nova a cada pessoa, família e sociedade; Atuar
profeticamente, à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres, para o
desenvolvimento integral da pessoa e na construção de uma sociedade justa e
solidária”.
Na
Arquidiocese de São Paulo, o coordenador e responsável pela CF, Padre Manoel
Conceição Quinta, SSP, em entrevista ao O SÃO PAULO, falou dos
desafios de assumir a coordenação da Campanha, qual a importância de discutir a
relação Igreja e sociedade, como a Arquidiocese se articulará na vivência da CF
e a importância da coleta que acontecerá, em todo o Brasil, no Domingo de
Ramos.
O SÃO PAULO - Como é ser coordenador da Campanha da Fraternidade na
Arquidiocese de São Paulo? Como está sendo assumir este desafio?
Padre Manoel Conceição Quinta - É
um desafio grande, como coordenar qualquer outra pastoral. A Arquidiocese
de São Paulo é imensa e coexistem na cidade muitas realidades diferentes.
Penso ser importante trabalhar em conjunto com o Secretariado Arquidiocesano de
Pastoral, com o coordenador de Pastoral de cada Região, com o objetivo de
formar núcleos de animadores da Campanha da Fraternidade, para atuarem nos
setores e nas comunidades. Se o desafio é grande, a colaboração de todos
é maior.
O que o tema da Campanha “Fraternidade: Igreja e sociedade” tem a dizer
para a Igreja em São Paulo?
A
Campanha recorda à Igreja sua missão de construir o Reino de Deus. Ela tem de
ser presença viva de Jesus Cristo, contribuindo para que a sociedade seja mais
justa e fraterna. A Campanha lembra à Igreja que ela vive numa sociedade onde
há muitos miseráveis e desprovidos de tudo. Às vezes é bom trazer à memória
realidades desagradáveis. Há sempre o perigo de nos esquecermos delas, tudo
sendo assimilado como “cultura” e aí não se faz mais nada.
Qual a contribuição da Igreja para a sociedade brasileira ao longo dos
últimos cinquenta anos?
São
múltiplas as contribuições da Igreja para a sociedade brasileira. Podemos
partir das mais simples: a Igreja não prega a violência, nas suas orações
sempre inclui as aflições da sociedade, reflete sobre a realidade social
e por vezes aponta injustiças, que atentam contra a dignidade humana. Promove a
assistência, coloca-se a serviço dos mais necessitados. Basta lembrar a
existência das Pastorais Sociais da Arquidiocese. Quando necessário, se engaja
politicamente e colabora com outras instituições comprometidas com o bem comum,
a dignidade do ser humano e a justiça social.
Como estreitar o diálogo e a colaboração entre Igreja e sociedade?
A
Igreja, a partir do Concílio Vaticano II, sempre esteve aberta ao diálogo e à
colaboração, para que a sociedade seja mais justa e fraterna. O diálogo e a
colaboração se tornarão estreitos à medida que existir um pensamento comum, uma
ação que não esteja eivada de ideologias.
Quais as questões desafiadoras na evangelização da sociedade?
Entre
tantas questões desafiadoras nomeio algumas: a droga, a violência e
criminalidade, o indiferentismo e individualismo, o consumismo e o hedonismo.
Como buscar novos métodos, atitudes e linguagens para atualizar a missão
da Igreja de levar a Boa-Nova a cada pessoa, família e sociedade?
A
pergunta é bem ampla, a resposta é breve: o amor. Lembro-me de São Paulo
Apóstolo: “Tende vem vós os mesmos sentimentos de Jesus Cristo” (Fl 2,5). Aqui
está o segredo de tudo.
Qual a importância da coleta da Campanha da Fraternidade? Como é usado
esse dinheiro?
A
Coleta da CF é o gesto concreto dos católicos, para os projetos próprios de
cada campanha específica. Na falta de projetos específicos, o que é arrecadado
destina-se à manutenção das obras sociais da Igreja e no nosso caso, às
Pastorais Sociais da Arquidiocese. A coleta da Campanha está sempre ligada ao
espírito quaresmal. A quaresma é tempo de penitência, oração, esmola, jejum e
conversão. O Papa Francisco, em sua Exortação Apostólica,
nos diz que “o clamor dos pobres faz-se carne em nós”. Pede para voltarmos a
ler a Palavra de Deus sobre a misericórdia. “A misericórdia não teme o
julgamento” (Tg 2,12-13). A literatura sapiencial fala da esmola como exercício
concreto de misericórdia para com os necessitados: “A esmola livra da morte e
limpa todo pecado” (Tb 12,9). Encontramos o mesmo pensamento no Novo
Testamento: “Mantende em vós uma intensa caridade, porque o amor cobre uma
multidão de pecados” (1Pd 4,8) (EG, 193).
Como será trabalhada a Campanha na Arquidiocese?
A
Campanha da Fraternidade está sendo trabalhada na Arquidiocese desde dezembro
de 2014. Várias reuniões já foram feitas com o objetivo de divulgar a Campanha
e formar agentes que animem as comunidades. Algumas Regiões Episcopais estão
bem organizadas com suas equipes de divulgação da CF.
Quais desafios para que os padres e leigos assumam o compromisso com a
Campanha?
A
Campanha é a maior expressão de unidade pastoral da Igreja Católica no Brasil. Ela
evangeliza e ensina a todos a ler a realidade, à luz do Evangelho. Não é
necessário inventar muita coisa. É preciso conhecer as Pastorais Sociais da
Arquidiocese e apoiá-las em
tudo. Como sugestão se poderia retomar o “Seminário da
caridade”, para todos tomarem conhecimento da ação social da Igreja na
Arquidiocese de São Paulo.