Está chegando a
Quaresma, tempo em que a liturgia da Igreja convida os fiéis a se prepararem
para a Páscoa, mediante a conversão, com práticas de oração, jejum e esmola. E
é justamente na Quarta-Feira de Cinzas, que acontece um dos principais eventos
da Igreja Católica no Brasil, o lançamento da Campanha da Fraternidade (CF). A
CF está na sua 49ª edição, é realizada todos os anos e seu principal objetivo é
despertar a solidariedade das pessoas em relação a um problema concreto que
envolve a sociedade brasileira, buscando caminhos e apontando soluções.
Neste ano de 2012 a Campanha da
Fraternidade destaca a saúde pública e suas variantes. Com o tema “Fraternidade
e Saúde Pública”, e o lema “Que a saúde se difunda sobre a terra” (cf. Eclo
38,8); a CF de 2012 tentará refletir o cenário da saúde no Brasil,
conscientizando o Governo da precariedade de condições dos hospitais e
mobilizando a sociedade civil para reivindicar melhorias.
Mas você sabe
quando a Campanha da Fraternidade começou? Quem foram os seus criadores?
A primeira
Campanha da Fraternidade foi idealizada no dia 26 de dezembro de 1963, sob
influencia do espírito do Concílio Vaticano II. Antes disso, o primeiro
movimento regional, que foi uma espécie de embrião para a criação do atual
modelo da “Campanha da Fraternidade”, foi realizado em Natal (RN), no dia 8 de
abril de 1962, por iniciativa do então Administrador Apostólico da Natal, dom
Eugênio de Araújo Sales, de seu irmão, à época padre, Heitor de Araújo Sales e
de Otto Santana, também padre.
Esta campanha foi
inspirada nas campanhas promovidas pela instituição alemã Misereor, que dom Eugênio
conhecera quando foi concluir seu trabalho de doutorado naquele país. “Ali pude
acompanhar a Campanha Quaresmal para recolher o fruto dos sacrifícios em
benefício dos povos que sofriam fome, como eles mesmos tinham sofrido 15 anos
antes, logo depois da Segunda Guerra Mundial. O material para informação
(homilias, boletins paroquiais, etc.) continha reflexões muito profundas.
Trouxe para o Brasil todo o material para que pudéssemos adaptar aqui.”
Dom Eugenio Sales
numa reunião do clero lançou a ideia. Foi feita uma lista e nomes, no fim
venceu o nome "Campanha da Fraternidade". Ficamos satisfeitos com o
nome, mas nunca imaginávamos que aquela pequena semente se transformasse no que
é hoje”, disse o arcebispo emérito de Natal, dom Heitor de Araújo Sales.
A experiência foi
adotada, logo em 1963, por 19 dioceses do Regional Nordeste 2 da CNBB (Alagoas,
Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte). Naquela época, envolvidos pelo
Concílio Vaticano II, os demais bispos brasileiros fizeram o lançamento do
Projeto da Campanha da Fraternidade para todo o Brasil. Dessa forma, na
Quaresma de 1964 foi realizada a primeira Campanha em âmbito nacional. Desde
então, até os dias atuais, a CF é realizada em todos os recantos do Brasil.
Em 1965, tanto a
Cáritas quanto Campanha da Fraternidade foram vinculadas diretamente ao
Secretariado Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). A
partir de então, a Conferência dos Bispos Brasileiros passou a assumir a
Campanha da Fraternidade.
A partir de uma
análise dos temas abordados a cada ano, a história da Campanha da Fraternidade
pode ser dividida em três fases distintas: de 1964 a 1972, os temas
refletem um olhar voltado para a renovação interna da Igreja, provavelmente sob
o influxo das reformas propostas pelo Concílio Vaticano II; de 1973 a 1984, aparece na
Campanha a preocupação da Igreja com a realidade social do povo brasileiro,
refletindo influências do Vaticano II e das Conferências Episcopais de Medelín
e Puebla, sem deixar de lado a questão política nacional, que vivia uma de suas
mais terríveis fases: a ditadura militar. A terceira fase, a partir de 1985,
reflete situações existenciais dos brasileiros.